Polineuropatia periférica
O que é?
A polineuropatia periférica é uma condição em que vários nervos do corpo sofrem algum tipo de lesão ou alteração no seu funcionamento. Esses nervos pertencem ao sistema nervoso periférico, que conecta o cérebro e a medula espinhal às extremidades do corpo.
Muitas vezes, quando pensamos em doenças neurológicas, lembramos apenas do cérebro. Mas o sistema periférico tem um papel essencial: ele leva as ordens do cérebro até os músculos (sistema motor) e traz de volta as informações de sensibilidade da pele e dos receptores (sistema sensitivo).
Quando esse sistema não funciona bem, podem aparecer sintomas como formigamento, fraqueza, perda de sensibilidade ou dor.
Quais são os sintomas mais comuns?
Os sintomas da polineuropatia variam conforme o tipo e a gravidade da doença. Quando a causa é o diabetes, por exemplo, os sintomas costumam começar nos pés, depois podem subir até a altura dos joelhos e, em seguida, atingir as mãos.
Entre os sinais mais frequentes estão:
Formigamento ou dormência em pés e mãos – muitas pessoas descrevem como se fossem “agulhadas” ou “choques elétricos”.
Fraqueza muscular – pode dificultar caminhar ou segurar objetos. Esse sintoma, no entanto, tende a aparecer em fases mais avançadas; nem sempre está presente nos casos iniciais.
Dor em queimação ou sensibilidade aumentada ao toque – mesmo um simples contato com o lençol pode ser incômodo.
Perda de equilíbrio, principalmente no escuro – acontece porque o corpo perde parte da capacidade de “sentir onde está cada pé ou mão” no espaço, devido ao comprometimento dos nervos sensitivos.
Quais as causas?
Existem diversas causas de polineuropatia. Por isso, antes de iniciar uma investigação mais aprofundada, é essencial saber para onde estamos indo. Nesse contexto, a anamnese (primeira parte da consulta, a escuta da história do paciente) deve ser feita com atenção, seguida de um exame neurológico das extremidades.
Saber quando os sintomas começaram, se apareceram primeiro nos pés ou nas mãos, como foi a progressão ao longo do tempo, além da história familiar e do uso de medicações é fundamental para orientar a investigação.
As causas mais comuns incluem:
Diabetes mellitus – é a principal causa no mundo. A lesão dos nervos ocorre tanto pelo mau controle da glicemia quanto pelo tempo de duração da doença.
Deficiências nutricionais – principalmente de vitamina B12, essencial para o funcionamento do sistema nervoso.
Lesões tóxicas – como o uso excessivo de álcool, que pode causar dano direto aos nervos e também provocar falta de vitaminas.
Doenças autoimunes – como a síndrome de Guillain-Barré e a polineuropatia inflamatória crônica (CIDP). Nestes casos, os sintomas costumam surgir mais rapidamente e de forma diferente do que em neuropatias por diabetes, por exemplo.
Doenças hereditárias – causas mais raras, em que geralmente há outros familiares acometidos, como na doença de Charcot-Marie-Tooth.
Infecções – como hanseníase, hepatites, entre outras.
Como é feito o diagnóstico?
Para chegar ao diagnóstico de polineuropatia, o primeiro passo é saber o que se está procurando. Por isso, é fundamental procurar um neurologista — e, quando possível, um especialista em doenças neuromusculares (neurologista focado em nervos periféricos).
O excesso de exames sem relação direta com os sintomas pode levar a conclusões erradas e atrasar o diagnóstico correto — e ninguém quer isso.
Consulta neurológica detalhada – envolve a avaliação dos sintomas, histórico de saúde, evolução da doença e exame físico das extremidades.
Eletroneuromiografia (ENMG) – mede a atividade elétrica dos nervos e músculos. A experiência do profissional é essencial, já que a interpretação depende tanto da clínica quanto dos parâmetros do equipamento.
Exames de sangue – ajudam a identificar causas como diabetes, deficiências vitamínicas ou doenças autoimunes. Em muitos casos, pode ser necessário pedir também a eletroforese de proteínas, que avalia a produção anormal de imunoglobulinas.
Exames de imagem – a ultrassonografia neuromuscular vem ganhando espaço na avaliação dos nervos. Quando há inflamação, por exemplo, o nervo pode aumentar de tamanho, e isso pode ser detectado pela ultrassonografia.
Biópsia de nervo – reservada para situações específicas, quando a investigação inicial não esclarece a causa.
Teste genético - pode ser feito em casos que suspeita-se de doença hereditária.
Existe tratamento?
O tratamento da polineuropatia depende diretamente da causa identificada. Por isso, o mais importante é descobrir o motivo da lesão nos nervos, para então agir de forma direcionada.
Entre as principais estratégias estão:
Controle da doença de base – no caso do diabetes, manter a glicemia dentro da meta é fundamental para evitar a progressão dos sintomas.
Reposição de vitaminas – em situações de deficiência, como a de vitamina B12, a suplementação pode trazer grande melhora.
Suspensão de agentes tóxicos – parar o uso excessivo de álcool ou ajustar medicamentos que possam estar afetando os nervos.
Tratamento das doenças autoimunes – pode incluir tratamento com corticóides ou medicamentos que regulam a resposta do sistema imunológico, conforme avaliação médica.
Medicações para dor neuropática – quando há dor, podem ser usados antidepressivos, anticonvulsivantes ou cremes tópicos. Não se tratam de analgésicos comuns, mas de remédios que atuam especificamente na dor do nervo.
Fisioterapia e exercícios – ajudam a manter a força muscular, melhorar o equilíbrio e prevenir quedas.
Cuidados com pés e mãos – especialmente em pessoas com perda de sensibilidade, para evitar feridas ou infecções que podem passar despercebidas.